Damaris kaininsanh Felisbino: Formanda Kaingang do curso de Letras Vernáculas agradeceu parentes e amigos durante formatura conjunta da UEL |
Agência UEL - 18/04/2016
O povo indígena ainda hoje continua lutando para conquistar seus direitos e na educação os avanços são muitos. Um bom motivo para comemorar este 19 de abril, Dia do Índio. Com a oportunidade obtida por meio do Vestibular Indígena, 45 índios já concluíram a graduação em cursos como Medicina, Direito e Odontologia, nas sete universidades estaduais do Paraná. Atualmente, 163 indígenas estão matriculados em diversos cursos de graduação e na pós-graduação.
É o caso do estudante do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM), José Roberto. Da nação indígena Guarani, ele pertence à Terra Indígena de Laranjinha há cerca de 250 km de Londrina. A aldeia Posto Velho, tem 150 habitantes. Com 26 anos, ele passou no primeiro vestibular. Já é bacharel em Ciências Sociais e está concluído a Licenciatura em Ciências Sociais. A irmã é pedagoga na escola da aldeia, onde ele pretende dar aulas após a conclusão do curso. "Vejo como uma trajetória vitoriosa. Uma oportunidade única de adquirir conhecimento e contribuir com a nossa aldeia. Se não fosse todo o apoio dado pelo programa e a ajuda com a bolsa auxílio, tudo seria muito mais difícil", afirmou.
Em 2016, será realizada a 16ª edição do Vestibular Indígena. Visando também contribuir com a permanência do estudante no curso é concedida uma bolsa auxílio, que teve reajuste de 42% no mês de março, passando de R$ 633,00 para R$ 900,00. Para os indígenas que têm um filho ou mais sob guarda, há acréscimo de 50% no valor da bolsa.
O presidente da Comissão Universidade para Índios (CUIA) para Índios), Wagner Amaral, lembra que o Paraná foi pioneiro neste tipo de iniciativa que tornou-se uma política de Estado. "Ainda temos a tarefa de aprimorar esta política para mostrar ao país que é possível desenvolver ações, como as que estamos fazendo. Precisamos trabalhar bastante pela superação do preconceito, que hoje é menor, mas ainda existe na sociedade e também na universidade", comenta.
Como muitos indígenas trabalham na roça, concluir os estudos torna-se um sonho difícil de ser realizado. Se entrar na universidade já é motivo de orgulho para toda a aldeia, concluir o curso e ser aprovado em um Programa de Mestrado, aos 23 anos, é mais do que Izael da Silva Pinheiro havia almejado. Pertencente à Terra Indígena de São Jerônimo, há 90 km de Londrina, ele é o primeiro indígena a cursar Mestrado nas universidades estaduais. "Pensei muitas vezes em voltar para a roça mas, com o apoio da CUIA e da bolsa, consegui superar as dificuldades. Todos nós indígenas temos capacidade para chegar até onde cheguei. Precisamos ter orgulho e valorizar nossa cultura", destacou Izael.
Um dos projetos desenvolvidos pelo professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e presidente da CUIA, Wagner Amaral, chama-se "A trajetória dos profissionais indígenas e a constituição dos circuitos de trabalho indígena na educação", objetivando compreender os percursos feitos pelos profissionais indígenas formados pelas universidades estaduais, identificando seu ingresso e permanência em diferentes espaços de trabalho. "Entre os avanços que observei está o reconhecimento de que os profissionais indígenas têm retornado para as terras indígenas para atuarem em diversas políticas sociais, principalmente na saúde (nas Unidades Básicas de Saúde) e na educação (nas Escolas Estaduais)", disse.
Atualmente, 163 indígenas estão matriculados em diversos cursos de graduação e na pós-graduação das Universidades paranaenses |
Na Unidade Básica de Saúde da aldeia de Laranjinha, apenas o médico não é indígena. Todos os demais profissionais são. A dentista Elis Regina Jacintho, trabalha na aldeia desde que se formou em 2009. Em 2010, começou a atender também em outra reserva próxima e, atualmente, também atende fora da aldeia, em Londrina. "É muito gratificante para mim e para todos da aldeia. Alguém que saiu do meio deles e que volta para oferecer este atendimento diferenciado. Principalmente na área da saúde há particularidades da nossa cultura que precisam ser respeitadas", conta.
Na família de Elis, que já está formada, dos nove filhos, mais quatro estão na universidade em cursos como Medicina, Direito e Ciências Sociais. Todos pretendem trabalhar pelo povo da aldeia. Habitam o território paranaense três etnias indígenas: os Kaingang, sendo estes o grupo demograficamente majoritário; os Guarani e os Xetá. (Com informações da SETI).
Veja também:
CUIA - Comissão Universidade para os Índios
(www.uel.br/prograd/cuia)
(www.uel.br/prograd/cuia)
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